sábado, 16 de março de 2013

um poema de marguerite yourcenar




Gherardo Perini



«Não irei mais longe, Gherardo.
Não te acompanho mais porque o trabalho urge
e eu sou um homem velho. Sou um homem velho, Gherardo.
Às vezes, quando te entregas mais à ternura,
chegas a chamar-me teu pai. Mas eu não tenho filhos.
Nunca encontrei mulher tão bela como as minhas figuras de pedra,
mulher que ficasse horas imóvel sem falar,
como coisa necessária que não precisa de agir para ser,
e nos faz esquecer que o tempo passa porque está sempre presente.
Mulher que se deixe olhar sem sorrir nem corar
porque compreendeu que a beleza é qualquer coisa de grave.
As mulheres de pedra são mais castas que as outras,
e mais fiéis, porém, são estéreis.
Não há fenda por onde se possa introduzir nelas o prazer,
a morte, ou a semente de uma criança,
e por isso elas são menos frágeis.
Por vezes quebram-se e em cada pedaço de mármore
fica contida a sua beleza inteira, como Deus
que está em todas as coisas,
mas nada de estranho entra nelas que dilate o seu coração.
Os seres imperfeitos agitam-se e acasalam-se para se completarem,
mas as coisas só belas são solitárias como a dor humana.



Gherardo, não tenho filhos.
Eu bem sei que a maioria dos homens não tem propriamente um filho:
têm Tito, ou Caio, ou Pedro, e não é a mesma alegria.
Se eu tivesse um filho,
ele não se havia de parecer com a imagem que eu dele formara
antes de existir. Assim também as estátuas que faço
são diferentes daquelas que comecei por sonhar.
Mas Deus permite-se ser conscientemente criador.
Se fosses meu filho, Gherardo, eu não te amaria mais,
mas não teria que perguntar-me porquê.
Toda a minha vida procurei respostas a perguntas
que talvez não tenham resposta e perscrutei o mármore
como se a verdade se encontrasse no coração das pedras,
e espalhei as cores para pintar muralhas
como se se tratasse de fixar acordes sobre um enorme silêncio.
Tudo se cala, sabes, até a nossa alma —
ou então somos nós que não ouvimos.



Assim, tu partes.
Na minha idade já não se dá importância a uma separação,
mesmo que definitiva. Eu bem sei que os seres que amamos e que nos amam mais
se vão separando insensivelmente de nós a cada momento que passa.
É também deste modo que se vão separando de si próprios.
Estás sentado sobre essa pedra e julgas-te ainda aí,
mas o teu ser, voltado para o futuro, não adere mais ao que foi a tua vida,
e a tua ausência já começou. É certo que compreendo
que tudo isto é ilusão, como o resto, e que o futuro não existe.
Os homens que inventaram o tempo,
inventaram por contraste a eternidade, mas a negação do tempo
é tão vã como ele próprio. Não há nem passado nem futuro
mas apenas uma série de presentes sucessivos,
um caminho perpetuamente destruído e continuado
onde todos vamos avançando.



Estás sentado, Gherardo,
mas os teus pés estão assentes no solo
com a inquietação de quem experimenta o caminho.
Estás vestido com trajes do nosso século,
que hão-de parecer feios ou simplesmente estranhos quando o século
tiver passado pois as vestes não são mais que a caricatura do corpo.
Vejo-te nu. Tenho o dom de ver através das roupas o irradiar do corpo,
que é como os santos vêem as almas, segundo penso.
É um suplício quando são feios,
mas é um outro suplício quando são belos,
dessa beleza frágil que a vida e o tempo atacam por todos os lados
e acabarão por tomar-te,
mas neste momento és dono dela e tua será na abóbada da igreja
onde pintei a tua imagem. Mesmo que um dia
o teu espelho te não mostre mais que um retrato deformado
onde não ouses reconhecer-te, existirá sempre noutro sítio
o reflexo imóvel de ti.
E desse modo imobilizarei a tua alma também.



Tu já não me amas.
Se consentes em ouvir-me durante uma hora
é porque somos sempre indulgentes com aqueles que vamos deixar.
Ligaste-me e agora desligas-me.
Não te censuro, Gherardo.
O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido
que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo.
Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces,
ao encontro de quem vais e que porventura te esperam:
aquele que eles vão conhecer será diferente daquele
que eu julguei conhecer e creio amar.
Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e,
sendo a arte a única forma de posse verdadeira,
o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.



Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas:
vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los.
Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe,
enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo,
assim tu também não és mais para mim
do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver.



Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.»




Marguerite Yourcenar
“O tempo esse grande escultor”
trad. helena vaz da silva
difel 2001

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

http://viagem.uol.com.br/guia/cidade/sao-petersburgo.jhtm


Antiga capital czarista, São Petersburgo se torna um dos principais e mais elegantes centros culturais do Leste Europeu
Arte UOL
Esqueça a imagem clássica de um brutamontes bebendo vodca com chapéu de pelos no inverno. A ex-capital do Império Russo, São Petersburgo, transpira nobreza e traz à luz um glamour inigualável em todo o mundo. Pelas largas avenidas e canais onde o frio cortante ? potencializado pelo Rio Neva, que passa 237 dias por ano coberto com gelo ?, imensidão e requinte nos detalhes das fachadas e por detrás delas. A capital do czarismo russo é tão luxuosa que seus habitantes parecem não achar muita graça nas clássicas Paris e Roma, por exemplo. Herança e uma carga histórica longínqua, assinada por nomes épicos como Catarina ou Pedro, o Grande, fazem da cidade localizada na entrada do Golfo da Finlândia tão ou mais importante que Moscou.

Diferentemente da capital russa, a cidade que já se chamou Petrogrado e Leningrado é o berço da sociedade russa ? assim como da burguesia que transformou o país. Artistas como o romancista Fiódor Dostoevsky, que nasceu e viveu em São Petersburgo, fazem dela a capital cultural do país por excelência.

Mas as coisas começam a fazer sentido quando se descobre o desbunde protagonizado por czares e czarinas. A aura fina e delicada é comprovada na obra-prima de Alexander Sokurov, o ?Arca Russa?. No plano-sequência de 90 minutos, o cineasta discorreu sobre vitórias, fracassos e formação de uma civilização em um dos cenários mais pomposos da cidade: o Hermitage. O ex-Palácio de Inverno, que hoje é considerado o maior museu do mundo, consegue remeter quem o visita a uma época em que luxo e grandeza demais nunca eram o suficiente para quem detinha poder sobre 22.400.000 quilômetros quadrados do planeta.

Fundada pelo czar Pedro, o Grande em maio de 1703, a cidade serviu de capital do Império Russo por mais de 200 anos. E foi apenas depois da Revolução Russa de 1917 que a capital passou para Moscou. Antes disso acontecer, aqueles que viajavam de Moscou para São Petersburgo levavam 3 dias na estrada. Os russos costumavam dizer que não viajavam, mas viviam no caminho.

Pedro teria criado a capital russa em um pântano que teve de ser drenado pelo canais que enfeitam a cidade. Remodelada para seu tricentenário, em 2003, hoje São Petersburgo tenta atrair o máximo de interesse e investimentos provenientes de turistas e empresas do Ocidente.

Atualmente São Petersburgo é a segunda maior cidade do país, com cerca de 4,6 milhões de habitantes, e mais 6 milhões vivendo no entorno. Possui cena noturna e de diversão intensa, com compras e restaurantes. É considerada um dos principais centros culturais da Europa, além de ser um importante porto russo no Mar Báltico. O orgulho da cidade se dá também por seu protagonismo na História moderna. Foi em São Petersburgo que o Exército de Hitler acabou derrotado pelos soldados vermelhos. Em meio à neve e ao frio castigante do temível inverno russo, as forças do Eixo caíram definitivamente e aproximaram o momento de declaração sobre o fim da Segunda Guerra. Nomes da história atual, como o primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Dmitri Medvedev, também iniciaram sua trajetória na cidade no norte do país.

Mas nem só de flores vive a metrópole mais elegante do Leste Europeu. Uma das principais famas da cidade diz respeito aos batedores de carteira. Assim como no ?Pickpocket?, filme de Robert Bresson inspirado no clássico ?Crime e Castigo?, de Fiódor Dostoiévski, turistas menos atentos têm grandes chances de perceber horas depois que foram furtados. Em vias e lugares cheios, como trens e estações de metrô, atenção nunca é demais. Uma vez vítima dos batedores, só resta enfrentar a burocracia russa para prestar queixa. Uma experiência que pode ser torturante, além de consumir um dia inteiro da viagem.

Por abrigar palácios em quase todas as suas regiões, São Petersburgo tem construções que tornam-se atração. Czarismo é o espírito de uma época que define, por excelência, a majestosa cidade. Bem servida de bons restaurantes e cafés, a metrópole é detentora de construções que, dada à carga histórica, são tombadas e classificadas patrimônio da Unesco. Para os bon vivants, atrações nunca faltaram. Do café com torta ao balé no teatro, nos moldes imperiais, São Petersburgo é tão suntuosa e romântica quanto Veneza. Mas, talvez, ainda mais charmosa e interessante.

Caminhe pela Nevsky livremente e sem destino. Além das muitas surpresas que podem surgir ao longo da rota, é uma boa chance de descobrir antigos palácios, lojas, cafés, estúdios, escritórios, livrarias com mais de 60 anos e o cotidiano na cidade russa.

Coma com olhos, mas não toque. Atenção: apesar de tirar fotografias, em tese, ser um direito universal do turista, o melhor é ter cuidado e certificar-se antes de que fotos são permitidas. Apesar de não haver nenhuma placa com símbolo dizendo expressamente que não se pode fotografar ? muito provável que estejam escrito somente em russo ? o risco de ser multado (como, por exemplo, no metrô) é gigantesco.

GRUPO DE DISCUSSÃO


NO UOL

INFORMAÇÕES E SERVIÇO


Site do país - www.russiatourism.ru

Site da cidade - www.saint-petersburg.com

DDI - 7

Código de acesso de São Petersburgo - 812

Moeda - Rublo, simbolizado por Rb, vem em notas de 10, 50, 100, 500, 1000 e 5000. Além das moedas em 1, 2 ou 5 rublos.

Valor de troca - ? 1 = 43 Rb; US$1 = 28,9 Rb; R$1 = 16,7 Rb

Idioma - Russo. Apesar de ser um dos mais importantes destinos do país, o inglês é escasso em São Petesburgo. O idioma original é dominante e os russos, mesmo os que lidam com turistas, esforçam-se minimamente para entender o inglês ou outra língua. Em restaurantes e museus, instruções e cardápios em inglês são mais comuns.

Clima - Como fica perto da península escandinava, São Petersburgo é famosa pelo frio e por rigorosos invernos (a neve teria sido a maior inimiga dos nazistas, que foram derrotados na Batalha de Leningrado - nome dado à cidade entre 1924 e 1991). O Rio Neva, que corta São Petersburgo e vai até o Golfo da Finlândia ajuda a dar o tom gélido à cidade. Nas estações mais frias, a temperatura pode chegar a 35°C negativos.

Fuso horário - 6 horas a mais em relação a Brasília

Telefones de emergência - Defesa Civil e situações de emergência - 01

Horários - Com exceção de bancos e escritórios da administração governamental, que costumam fechar mais cedo, lojas e cafés costumam abrir por volta das 9h e fecham às 21h. Museus começam a funcionar, em geral, às 10h.

Gorjetas ? Gorjetas não são comuns, mas há nos restaurantes uma taxa cobrada que fica em torno de 18%.

Feriados - 1° de janeiro, 7 de janeiro (Natal ortodoxo), 23 de fevereiro (Dia da Defesa Russa, antiga festa do Exército Vermelho), 1° de maio (Dia do Trabalhador), 12 de junho (Dia da Independência)

Segurança - Não é à toa que o Robert Bresson se insipirou na obra ?Crime e Castigo?, de Dostoiévski, para filmar ?Pickpocket? (1959). A cidade é famosa por seus batedores de carteira, que, em geral, agem nas estações cheias do metrô.

Câmbio - Há casas de câmbio espalhadas pela cidade. Nas avenidas principais são mais comuns, enquanto nos bairros periféricos são menos frequentes. A cotação varia muito pouco de um lugar para outro. Caixas eletrônicos para saque são opção menos comum.

Custos - A Rússia é um dos países mais caros do mundo. Um pouco menos que Moscou, que tem hoje um dos padrões de vida mais altos da Europa, São Petersburgo oferece opções razoáveis de comida (como panquecas de salmão nos cafés), mas não de hotéis (que dificilmente saem por menos de 40 euros a diária).

Telefone - A ideia é que os telefones públicos funcionem com cartão de crédito. Muitos deles, no entanto, não reconhecem ou dão erro de leitura. Cartões telefônicos e fichas são raros.

Correio - As agências dos correios ficam abertas das 8h às 20h. Tel: 7 (812) 314-8714 www.spbpost.ru

Informações turísticas - Há centros de informações turísticas nos principais pontos de São Petersburgo, como a Ulitsa Sadovaya n° 14 (quase esquina com a Prospekt Nevsky) e o Aeroporto Pulkovo. Aberto de seg a sáb, das 10h às 18h, fornece informações para o turista como ônibus, museus, agências de citytours, além de assistência em casos de roubo, como o Tourist Helpline (300-3333). www.visit-petersburg.com

Voltagem e tomadas - 220V, com dois pinos redondos

Internet - Há cybercafes espalhados pela cidade, mas não muitos. Em geral apertados, alguns são 24h e outros ficam fechados durante apenas algumas horas na madrugada. O Internet café, na Prospekt Nevsky, é uma boa opção, dada à grande quantidade de computadores e o preço não abusivo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Eis a Questão.

Um homem chegou à beira de um abismo. Enquanto ficava lá pensando o que faria em seguida, surpreendeu-se ao ver uma corda bamba esticada sobre o abismo. Devagar, com segurança, vinha pela corda um acrobata empurrando um barril com outro artista dentro. Quando chegaram finalmente à terra firme, o acrobata sorriu diante do espanto do homem:
- Você não acredita que eu consigo fazer de novo? - perguntou o acrobata
- Mas claro, com certeza acredito que você consegue - respondeu o homem.
O acrobata perguntou novamente, e quando a resposta foi a mesma, ele apontou para o barril e disse:
- Tudo bem. Então, entre que eu o levo para o outro lado.
(Morton Kelsey)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Benjamin é assim....


Vieste Benjamin... 


Lua de prata, a hora e a tempo, com encantos e remansos no dia marcado, sagrado para nós....

Vieste dando alento, olhando bem dentro
Revivendo a bondade e o amor
Vieste com a cara e a coragem, com tudo, pra dentro da  vida, sem temor. 
Pessoa 
mais bonita, onde você estava, sinto que lhe esperava para ser feliz, o tempo me guardou
você
26/10/2012


                                                                                      http://youtu.be/DN4O54BgMXE




sábado, 28 de julho de 2012

É assim....


Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha,
é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.
Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só,
porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova
de que as pessoas não se encontram por acaso.

__ Charles Chaplin