sexta-feira, 27 de março de 2009

Devir!

"...Mas eis que um belo dia seu coração de águia despertou. Bebendo o sol com os olhos, resgatou seu ser de águia, ensaiou um vôo - titubeante no começo e firme em seguida - até voar soberbamente e desaparecer no azul do firmamento." (L.B.)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Amor!

Amor é um gostar que não diminui de um aniversário pro outro. Não.
Amor é um exagero...Também não...
É um desadoro...Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não haja explicação, esse negócio de Amor...
Aí...é difícil!
(Extraído do livro: Mania de Explicação. Adriana Falcão).

terça-feira, 24 de março de 2009

Deu Branco!

“Caminhar na busca de recuperar o esquecido, de enxergar novamente o simples que, em nossa época, através do embotamento provocado pelo universo tecnológico, se tornou uma das tarefas mais difíceis”. (HEIDEGGER, 1981).

Tudo e nada! As duas faces de uma mesma moeda. Às vezes parece que se tem tudo, até que tudo se transforma em nada. A vida, a casa, o emprego, a família, os que vivem no entorno...No campo das artes o branco é a soma de todas as cores... De novo tudo e nada!
Sobram estímulos, falta significado e expressão, como se o dia a dia passasse em branco. Então um sentido falha...E a vida recomeça onde tudo parece que termina. O filme Ensaio sobre a Cegueira faz emergir em nós um universo de sensações, que ficarão submersas se não pudermos explorar e transformar em reflexões. Quero comentar apenas três impressões que me remete à tão conhecida psicopatologia da vida cotidiana: a impessoalidade, a ignorância e o individualismo, todos esses, aliás, sintomas de uma mesma doença, sobejamente atualizada em nós: a cegueira da alma.
Nova York, Tóquio, São Paulo, tanto faz quando há uma mancha urbana cobrindo o grande vazio do cosmos. A vida passa brevemente e nós não paramos por nada, o fast food impera. Outro dia em meio a um grande temporal, uma cidadã paulistana liga num renomado restaurante e faz uma reserva. Tempos depois o mesmo restaurante retorna a ligação para o seu trabalho e pergunta se é possível antecipar a sua chegada uma hora antes e também se uma hora seria suficiente para degustação do prato. É claro que a sua resposta foi tão indelicada quanto a pergunta: “se eu quisesse comer correndo eu teria procurado um fast food”.
Vivemos tão ensimesmados que não enxergamos um palmo além, não sentimos o gosto, o cheiro, a textura, mal sabemos que dia é hoje, se fez chuva ou se caiu o maior sol...Daí eclode uma pergunta que não quer calar: qual é a emergência, para onde vamos com tanta pressa, o que tem lá que está faltando aqui? Falta você, há excessos do eu, faltamos nós, o diálogo entre o aqui e o ali, faltam conexões, trocas, nomes, cores, faltam espaços de convivência, sobram conveniências! É desse mal-estar que se foge e seguimos sem ninguém, quem sabe para encontrar com alguém... Acolá!
O filme capta olhares distantes, presenças ausentes, o tédio da dona de casa tomando uma taça de vinho, sozinha, enquanto termina a louça do jantar que sequer foi identificado e saboreado. O consultório cheio de personagens que estão indiferentes a presença do outro, aguardando tão e somente a sua vez, pois é isso e só isso o que importa: a minha vez, o meu bem-estar. Convém ressaltar que sintomas como esses, assim como o da indiferença, apatia, falta, competição, se constituem em maneirismos deficientes de se relacionar no mundo.
É evidente que nesse estado último de ignorância e desprezo humano, a perda de uma sensibilidade passe a gerar outros rumos rimas e sentidos. Primeiro a presença passa a ser estritamente funcional, depois como a única maneira de ser e existir no mundo, dependendo profundamente um do outro, estabelecendo relações, envolvimento e compromisso com uma vida de mais sensibilidade solidária. Essa é uma competência humana que carecemos desenvolver.
No livro, Todos nós ninguém...um enfoque fenomenológico do social, de Heidegger, temos a dica de viver dia a dia no plano da solicitude, não esperando que algo ou alguém falte para que então a vida passe a fazer sentido. No entanto, não podemos também esperar que a vida do próximo deixe de fazer sentido para que a nossa entre em cena e venhamos a ocupar os espaços vazios. Não faz sentido!!
Há muitos espaços em branco....Podemos ocupar os lugares junto com o outro, desatar o nó, fazer desabrochar o eu-tu-nós! Preencher o dia de hoje com experiências significantes...Buscar olhar para além do que o olhar capta...Perceber que a vida é significativa e cheia de pessoas significantes, esse é o mistério que almejamos desvelar. Pedir licença para conhecer e acolher a história de todos nós, afinal a nossa vida transcorre sempre entrelaçada com a vida de mais alguém.
Ser com os outros no mundo, é a característica fundamental e genuína, mais específica do ser humano, pois nos aproxima da humanidade e de nós mesmos com o que somos e sempre seremos. Podemos até esquecer, mas isso não muda a realidade de que você e eu somos essencialmente...gente.

Ângela Soares